Agnès Varda - O cinema com beleza e Magnitude
- Bruno Roque
- 10 de mar. de 2021
- 2 min de leitura

“Minha total ignorância dos belos filmes, muito antigos ou recentes, me permitiu ser ingênua e atrevida quando me lancei no métier de imagem e som” (Varda 1994: 38)
Agnés Varda se considerava uma “cinescritora”, pois para ela a câmera era como uma caneta que deveria ser usada para “escrever” a obra cinematográfica. E assim, a cineasta, documentarista, artista plástica e fotógrafa belga, deu sua imensurável contribuição para sétima arte.
Nos anos 50 Varda lança seu primeiro filme, ``La Pointe Courte'' (1955), uma mistura de documentário e ficção, geralmente apontado como longa-metragem que deu início à Nouvelle Vague francesa. O filme traz esse novo ar descompromissado dos cineastas franceses, que foge de uma estilo anterior, que prezava por adaptações realistas sempre pretendendo ser fiel às narrativas literárias e, segundo Truffaut em seu artigo na Cahiers du Cinéma, intitulado Une certaine tendance du cinéma françaisn (Uma certa tendência no cinema francês), traindo o cinema e as suas possibilidades. Varda e os outros cineastas do novo movimento trazem liberdade às produções.
Seu estilo foi incomparável e seu olhar de fotógrafa é evidente em seus filmes. Em “Cléo de 5 à 7” (1967), seu primeiro filme de grande sucesso, os enquadramentos têm um olhar fotográfico brilhante, como se fosse de fato uma fotografia em movimento. Neste momento Varda é caracterizada por seu posicionamento como a grande voz feminina do cinema europeu, colocando em seus filmes, dos quais até os ficcionais tinham tom documental, a presença do protagonismo feminino e o interesse por personagens marginalizados e rejeitados socialmente, com o foco claro no cotidiano, na vida comum e nos conflitos corriqueiros.

Sua obra traz o corpo como materialização do ser, colocando a importância na presença e atuação dos indivíduos. Além de trazer o feminismo para arte, Varda também teve grande importância ao dar voz ao movimento negro americano com o documentário em curta-metragem “Os Panteras Negras” (1968), mostrando as reflexões dos discursos de Huey Newtin, co-fundador, líder e inspirador dos Panteras Negras.
O curta "Os Panteras Negras" legendado está disponível clicando aqui!
Em 2017 dirigiu com o fotógrafo JR o documentário “Visage, Village” (disponível na Globoplay) , onde buscam, por meio da fotografia, a essência das pessoas. No ano seguinte, aos 89 anos, tornou-se a primeira cineasta mulher a ganhar um Oscar Honorário, celebrando sua “contribuição excepcional às ciências e artes cinematográficas”. Passou os próximos meses dirigindo um belíssimo documentário autobiográfico “Varda por Agnès” (2019) (disponível na Telecine Play), sua despedida, pois seria lançado poucos meses depois de sua morte.
Agnés Varda é uma das grandes mulheres, que em sua profissão (ou profissões) criou, revolucionou, professou e encantou. Com certeza um dos maiores nomes da história da sétima arte.
Referência:
VARDA, Agnès. Varda par Agnès. Paris: Editions Cahiers du Cinéma et Ciné-Tamaris,1994.
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