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Busca impossível ou impedimento implacável

  • Foto do escritor: Bruno Roque
    Bruno Roque
  • 2 de jun. de 2021
  • 2 min de leitura

Escrever sobre a morte, ou melhor, refletir sobre ela é pungente, ninguém de fato gosta deste tema. Quanto a isso, a Carol até fez uma indicação do livro A Morte é um Dia Que Vale a Pena Viver, escrito por Ana Claudia Quintana Arantes, lá no nosso Instagram. O óbito é de fato uma certeza. Aquela que a gente não queria ter.


Nas várias faces deste destino inevitável há uma que se mostra cruel. Aquela que vem com o impedimento e que interrompe os sonhos, parecendo implacável. O poema Ismália do mineiro Alphonsus de Guimaraens, poeta simbolista que no século XIX trazia em sua escrita temas como o amor, a morte e a religiosidade, mostra o fim como caminho que leva à vontade de unir corpo e espírito, como conclusão de sua busca por seu sonho.



Na obra é explorado o caos psíquico que assombra Ismália, que já confunde o que é imaginário com o que é real, vive perdida em sua própria loucura. Convivendo com seus objetivos inalcançáveis, como a lua que está no céu, ou no mar, encontra a solução em sua queda rumo ao céu e ao mar. Para Ismália não bastava estar próxima do reflexo da lua, seu objetivo era ter a lua em absoluto, nem que para isso tivesse que ir apenas com seu espírito.


Esse poema voltou a ser muito falado recentemente por influenciar, e fazer parte, da canção de mesmo nome do rapper Emicida. Em sua letra o cantor faz uma paralelo entre a queda de Ismália com o abismo social que atinge as pessoas pretas em nosso país. Não se fala necessariamente da morte como a perda da vida, mas do não existir ou ser simplesmente impedido de fato participar da existência.

Diferente da personagem do poema, que vê em seu salto um modo de concretizar seu sonho, o retrato feito por Emicida demonstra a tão dolorosa morte que interrompe, seja de maneira figurativa por privar as conquistas, ou literal pelo assassinato prematuro de muitos jovnens pretos. A canção transmite, pelo menos para mim, o sentimento de desistência. Ismália viu na morte a chance de realizar seu sonho. O retrato da música vê o impedimento, que pode ser tomado por si ou firmado sem que haja escolha.


A morte pode vir de diversas maneiras. Hoje convivemos diariamente com estatísticas que (por mais necessárias que sejam) desumanizam mortes recentes, e quase que se tornam comuns. Por isso, refletir sobre o fim, mesmo que doloroso, ajuda a não banalizar e nos impede de aceitar que sonhos sejam interrompidos.




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