O Folclore como construção de identidade
- Bruno Roque
- 24 de mar. de 2021
- 2 min de leitura

Após o sucesso mundial de Cidade Invisível, série da Netflix criada por Carlos Saldanha, responsável pelas animações Rio e Rio 2, o folclore brasileiro tornou-se centro das atenções para muitos dos espectadores, algo que é compreensível já que a cultura popular brasileira é riquíssima e desperta curiosidade, mesmo que tão pouco explorada nas grandes mídias.
Foi muito interessante ver as histórias que de alguma maneira se conectam com nossas memórias de infância, já que nesse período temos mais contato com os mitos e lendas, de forma madura e associados a uma realidade urbana e moderna. Além desse apelo a nossa conexão como brasileiros que conhecem essas histórias, a série também é uma porta para apresentar para o público estrangeiro nossa identidade.
É justamente a identidade de um povo o prisma dessas crenças e tradições, ou seja, a partir delas se constrói o modo de conhecer uma nação. E nosso país é riquíssimo em sua cultura, que une literatura, música, culinária, arte, medicina, arte, religião e diversas nuances do que é ser brasileiro.

E claro, nosso modo de ser está totalmente relacionado a miscigenação que influencia todas as esferas da nossa sociedade e o folclore não ficaria fora. A mistura de crenças ibéricas com a cosmologia indigena e as tradições africanas são o principal agente da construção da fantasia brasileira. Esse mundo de seres protetores das florestas, monstros que vem te buscar no meio da noite ou assombrações que estão no banheiro da escola, também esbarram no modo da construção de nossa sociedade, seja para amedrontar crianças ou para o próprio controle social de regiões.
Mas o folclore não é apenas uma conexão com as tradições e pode muito bem estar atrelado a inovação, sendo dinâmico e adaptável, seja por sua expanção oral, que dá margem a interpretações em cada região do país, ou pela capacidade de servir de base para os mais diversos tipos de roteiros de fantasia, seja na literatura ou no audiovisual. As variações, que respeitem as origens de cada estória, de modo algum podem ser prejudiciais para expansão da cultura brasileira, só podem acrescentar riqueza à nossa cultura.
Não podemos correr o risco de perder o contato com o cerne de nossa cultura e o uso desses diversos tipos de produção é uma das grandes chances de expandir nosso contato e construção de apego. E como disse no início do texto, essa conexão muitas vezes parece ficar presa em nossas memórias de infância (pelo menos para quem vive nos centros urbanos, como eu), e talvez seja hora de tornar nossa mitologia mais madura e investir na construção de um mundo fantástico brasileiro, até mesmo como uma forma de não limitar nossas produção à retratação da nossa dura realidade (não que eu ache irrelevante, pelo contrário, acho essencial).
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